Falar em John Green é lembrar do clássico A culpa é das estrelas, que o projetou como autor a nível
internacional. Depois, entretanto, foram surgindo novos livros do autor, quase
tão clássicos quanto o primeiro. Com a obra Quem
é você, Alasca? não foi diferente. Basta dar uma conferida na frase que
inicia o texto presente na contracapa do livro:
“Se
as pessoas fossem chuva, eu seria garoa e ela, um furacão”.
Miles
Halter é um adolescente como outro qualquer. Em busca de uma vida nova e novas
experiências, o jovem parte para a escola interna de Culver Creek, para se aventurar longe do ninho familiar e da super
proteção dos pais. Seu pai estudou lá na juventude e Miles espera ardentemente
que sua vida enfim tenha início nesse novo e inexplorado lugar. Num primeiro
momento, fica claro que os pais do garoto pouco o conhecem, pois alimentam a esperança
do filho ser popular na escola, cheio de amigos e super bem entrosado. Miles,
na verdade, é tímido, introvertido, mas sedento por novas experiências.
Fui
até o escritório do papai e achei a biografia de François Rabelais. Eu gostava
de ler biografias de escritores, mesmo que (como era o caso com o Monsieur
Rabelais) não tivesse lido nenhum de seus livros. Folheei as últimas páginas e
encontrei uma citação destacada com marca-texto (...) Então, esse cara, eu
disse, parado à porta da sala. “François Rabelais. Era poeta. Suas últimas
palavras foram: ‘Saio em busca de um Grande Talvez’. É por isso que estou indo
embora. Para não ter de esperar a morte para procurar o Grande Talvez” (p. 5).
Miles
era simplesmente fascinado em colecionar últimas palavras. Sobretudo as célebres.
Chegando ao novo lar, ele conhece Alasca Young, a jovem e misteriosa que dá
nome ao livro. Alasca tem problemas familiares e um psicológico nada
convencional para uma garota tão nova e cheia de vida. Mesmo assim, uma atração
entre os dois é inevitável.
Entramos.
Eu me virei para fechar a porta, mas o Coronel balançou a cabeça e disse:
“Depois das sete temos que deixar a porta aberta se estivermos no quarto de uma
garota”, mas eu quase não o ouvi, pois diante de mim estava a garota mais linda
da história da humanidade, com jeans cortados à altura das coxas e uma camiseta
regata cor de pêssego” (p.15).
É
impossível não ressaltar o fato de que os personagens criados por John Green
são magistralmente bem construídos. Dez páginas depois e a gente já sente que
somos seus amigos de infância ou mesmo, parentes bem próximos. O mais
impressionante, em minha modesta opinião, é que ele tem o dom de transformar
antagonistas em protagonistas, como acontece com alguns personagens de menor
impacto nesta história. O colega de quarto de Miles, apelidado de Coronel, é um
deles. Como todos os outros, ele também tem os seus problemas, mas lida com bom
humor e descontração com a maioria deles.
O
livro em si é divido em duas partes: ANTES e DEPOIS. É óbvio que o leitor fica
imediatamente curioso com as citações do tipo Centro e vinte e oito dias antes, mas isso não impede que a leitura
siga seu rumo, de maneira saudável e nada convencional. Acho até bem prático
dizer que o livro é como uma montanha russa de emoções. Inúmeros são os temas
abordados, que vão desde sexualidade até alcoolismo juvenil e relacionamentos
familiares. Todos de maneira exemplar, beirando a perfeição.
As
palavras ‘bebida’ e ‘farra’ me deixaram receoso de que eu tivesse me envolvido
com o que minha mãe chamava de ‘as pessoas erradas’, mas eles pareciam
inteligentes demais para serem as pessoas erradas (p.20).
Um
detalhe essencial: Miles é o protagonista, o narrador, mas Alasca é, sem
dúvida, a principal fonte de brilho desta trama. Por diversas vezes, ela nos
irrita e nos confunde, como por exemplo quando Miles vai lhe pedir socorro
depois de sofrer um trote um tanto violento logo depois de chegar ao internato.
Alasca mal lhe abre a porta do quarto e o destrata.
Qualquer
leitor, mesmo eu, que já estou na casa dos trinta, certamente já teve dias
inesquecíveis na escola e amigos, cujos rostos e atitudes irá levar consigo
para toda a vida. A este, é uma missão extremamente difícil não se envolver com
este livro. Penso que, por mais um livro nos faça chorar, sofrer ou
simplesmente dar umas boas gargalhadas que logo depois são esquecidas, o mais
importante são as horas mais do que agradáveis que passamos em sua companhia.
Como é o caso desde livro. Vida longa a John Green! Ele é perfeito!